segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Bíblia - o que sabemos? (3)

As traduções

A Bíblia é um dos livros mais traduzidos no mundo. Entre os cristãos do Ocidente, a primeira das grandes traduções, a Vulgata, foi feita por S. Jerónimo, no século IV da nossa era. S. Jerónimo traduziu em latim a partir de textos hebraicos e gregos. No entanto, o latim só era compreendido pelos sábios e pelas pessoas da Igreja. É necessário esperar pelo século XV para que a Bíblia seja traduzida em línguas compreendidas por um maior número de pessoas. Assim, Martinho Lutero, traduzindo a Bíblia em alemão e utilizando a imprensa, recentemente inventada, queria permitir aos crentes aceder ao texto sagrado sem passar pela medição da Igreja, que ele julgava corrupta. No século XX conheceu também numerosas traduções, que correspondem cada uma a uma fase da reflexão dos estudos bíblicos.

Como ler a Bíblia?

A Bíblia não é um livro como os outros. Não é um texto ditado por Deus, mas transmitido por homens inspirados por Deus. Os crentes consideram-na como um livro santo, um livro que evoca a relação entre os homens e Deus. E a sua leitura exige esforços, porque esta relação não é simples. Ela oscila entre esperanças e decepções, momentos de grandeza ou de violência. Ah! Se Deus tivesse feito do homem uma criatura obediente e sem ambiguidades! Mas Deus preferiu deixar ao homem a liberdade, nomeadamente a liberdade de escolher entre o bem e o mal. As numerosas narrativas bíblicas ilustram os riscos e as consequências destas escolhas. Elas também tentam acordar-nos quando a fé se torna demasiado rotineira. Nos Evangelhos, Jesus provoca os "bons crentes", preferindo-lhes as crianças, os marginais: é uma forma de recordar que a relação com Deus passa pelo amor aos outros, e não pela aplicação cega de receitas feitas.
A Bíblia é um livro exigente tal como a relação com Deus. Não se lê como um romance, mas como a narrativa de uma aliança que compromete o crente numa relação particular entre Deus e os homens.


Em sentido literal

Durante muito tempo, a maior parte dos fiéis pensava que era necessário ler a Bíblia literalmente. Julgavam, por exemplo, que Deus havia criado o mundo em sete dias. Mas, as descobertas da ciência, contradizendo cada vez mais algumas passagens da Bíblia, levaram-nos a uma leitura mais simbólica e mais atenta aos seus diferentes géneros literários. Assim, pode verificar-se, entre outras coisas, que o número sete é muitas vezes utilizado na Bíblia para exprimir a perfeição. É o que acontece com a narrativa da criação. É irrelevante tratar-se de sete dias ou de sete séculos. O que importa é a perfeição absoluta da obra de Deus.

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