segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Outra forma de narrar as origens

Quando o Senhor Deus fez a terra e o céu, não havia um único arbusto sobre a terra, nenhuma erva germinava, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para a cultivar. Mas a água nasceu da terra e embebeu todo o solo. Então o Senhor Deus modelou o homem com a poeira tirada do chão; insuflou-lhe nas narinas o sopro da vida, e o homem tornou-se um ser vivo.
O Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e aí colocou o homem que havia modelado. O Senhor Deus fez crescer do solo toda a espécie de árvores maravilhosas e com frutos saborosos: também havia uma árvore da vida no meio do jardim, e uma árvore do conhecimento do bem e do mal. O Senhor Deus conduziu o homem ao jardim do Éden para ele o cultivar e guardar. O Senhor Deus fez ao homem este aviso: «Podes comer os frutos de todas as árvores do jardim; mas não poderás comer da árvore do conhecimento do bem e do mal; porque, no dia em que comeres, serás condenado a morrer.»

O Senhor Deus disse: «Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma ajudante semelhante a ele.» Com a terra, o Senhor Deus criou todos os animais dos campos e todas as aves do céu, e colocou-os junto do homem para ver que nomes este lhes daria. Eram seres vivos e o homem deu um nome a cada um. Então, o homem deu os seus nomes a todos os animais, às aves do céu e a todos os animais dos campos. Mas não encontrou nehum ajudante parecido com ele. Então o Senhor Deus fez cair sobre ele um sono misterioso, e o homem adormeceu. O Senhor Deus tirou uma das duas costelas e voltou a fechar a sua carne. Com aquilo que tirou do homem, formou uma mulher e trouxe-a para junto do homem.
O homem então disse: «Esta é verdadeiramente osso dos meus ossos e carne da minha carne! Chamar-se-á: mulher. Por sua causa, o homem deixará o seu pai e a sua mãe, juntar-se-á a sua mulher, e os dois farão um só.» Os dois, homem e mulher, estavam nus, e não sentiam qualquer vergonha um diante do outro. (Gn 2, 4-25)


Porquê duas narrativas de criação?
O Génesis começa por duas narrativas da criação. A primeira mostra um Deus "maestro de orquestra". Ele executa metodicamente a sua obra de criação, e apenas com a sua palavra faz aparecer todas as coisas. A segunda, mais antiga, mostra um Deus artesão, que planta um jardim sobre a Terra e forma o ser humano com as suas próprias mãos, com a argila do solo. Estas narrativas de estilo diferente contam coisas essenciais sobre as origens do mundo e, como tal, julgou-se bem guardá-las. A primeira considera o conjunto do universo, enquanto que a segunda insiste mais sobre a Terra e o ser humano que a cultiva.

Éden - Esta palavra vem de uma lingua antiga, o sumério. Edin significa planície, terreno fértil. É um lugar simbólico, que não podemos situar geograficamente. Designa o jardim perfeito e idílico que Deus ofereceu a Adão e Eva. Hoje, esta palavra permanece na linguagem corrente para designar um lugar paradisíaco.


O Sopro da Vida
Segunda a narrativa bíblica, a criação do ser humano por Deus fez-se em dois tempos. Tal como um oleiro, Deus começa por «modelar» uma forma com a «poeira da terra». O ser humano pertence à terra, e isso é para ele um limite incontornável. Num segundo tempo, Deus comunica-lhe directamente o seu próprio «sopro de vida» para o tornar um «ser vivo». O ser humano também pertence a Deus porque partilha o seu sopro de vida.


Os frutos proibidos
A ideia da árvore do conhecimento do bem e do mal e da árvore da vida não é nova. Vem, certamente, de outras narrativas, mais antigas, em particular das babilónicas. Entre este povo, fala-se de uma árvore da verdade e de uma árvore da vida à entrada do céu. Para os autores da narrativa bíblica, a árvore da vida dá a imortalidade, e Deus proíbe o homem de comer os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não porque este conhecimento seja mau, mas o problema é o bom ou mau uso que o homem fará desse conhecimento.

Homem e mulher, qual é a diferença para a Bíblia?
No centro da obra de Deus, está o ser humano. A primeira narrativa da criação utiliza o termo «Adão», palavra que desiga a espécie humana em geral. Macho e fêmea pertencem a uma só e única humanidade e são iguais em dignidade. Imaginando que Deus forma a mulher a partir de uma costela do homem, a segunda narrativa diz a mesma coisa: os dois são tecidos da mesma humanidade. Nos dois casos, o homem e a mulher são postos em relação e definem-se pela atracção que têm um pelo outro.


Adão, o primeiro homem?
"Adão" é uma palavra derivada da palavra hebraica adamah, que significa "a terra". Com efeito, Adão não é nem um nome próprio nem um nome de família; é um nome comum.
Das quinhentas e sessenta vezes que aparece na Bíblia, só cinco vezes é usado como nome próprio, o nome do primeiro homem. "Adão" designa a humanidade, quer dizer, o homem e a mulher.

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